segunda-feira, 31 de janeiro de 2022


 Não ofusque


Em Filosofia Clínica temos a consciência de que a pessoa que busca a terapia é alguém que está em um movimento constante de construção e reconstrução. Em cada sessão ela fala ao terapeuta sobre o que ela é naquele momento. Para além das circunstâncias, nos exames categoriais esse partilhante é localizado existencialmente. O filósofo clínico parte do pressuposto de que não há certo ou errado e que aquele que chega até ele, ele o terapeuta, nada sabe e isso é tudo o que ele sabe. 

É através da história de vida dessa pessoa que acontecerá a aproximação. É através do que se apresenta fenomenologicamente durante a clínica que vai levar o terapeuta a perceber quais são as suas questões de fato. Quando a clínica começa está chegando uma pessoa que vai ser acolhida e vai contar a sua história. Dentro dessa história ela vai me dizer quem é, e quem ela me disser que é, assim será.  

Gaston Bachelard nos diz que: Face à realidade, o que julgamos saber claramente ofusca o que deveríamos saber." É na metodologia de pesquisa da Clínica Filosófica que vai aparecer o que é circunstancial, e o que precisa ser trabalhado ou não. O partilhante pode ter questões a trabalhar, verdades subjetivas, representações de seu mundo, completamente distintas das do filósofo clínico e isso não é um problema para esse método que tem como premissa a suspensão do juízo. No encontro entre partilhante e filósofo clínico há uma pluralidade do real onde questões de gênero, religião, política, cultura são modalidades dessa pluralidade e que para cada pessoa tem um significado e importância na representação de mundo delas. Não há uma verdade fundamental na Filosofia Clínica, o que há é o encontro, não há julgamento, o que há é escuta e acolhida. A terapia em Filosofia Clínica surge para trazer luz a singularidade ofuscada por verdades alheias.


Por: Paula Prizo

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022


Por que fazer terapia?
Quem busca terapia busca auxilio para suas questões existenciais das mais diversas. Aquele que chega à clínica vem em busca de quem o escute sem julgamentos e com o coração aberto. Auxiliando o partilhante a pensar por si mesmo, sem pensar por ele, o filósofo clínico como terapeuta da alteridade vai ao mundo do outro com hospitalidade, sem manipular, sem violar o espaço do outro com um generoso cuidado e respeito. Simone de Beavouir diz que “Quando se respeita alguém não queremos forçar a sua alma sem o seu consentimento”. Com esse cuidado sobre a representação de mundo daquele que chega o filósofo clínico escuta atentamente até ouvir a sua singularidade.
Algumas pessoas por mais que tentem não conseguem gerir as questões que lhe angustiam, é como se estivessem em uma areia movediça que quanto mais se debatem, mais são engolidas.  Em terapia a pessoa tem a oportunidade de aprender a lidar com isso, o partilhante inicia um processo para desvelar a sua alma. Fazer terapia é um ato de coragem, de amor e cuidado consigo. No espaço da clínica o partilhante está seguro de que não julgado, jamais será condicionado a adotar esse ou aquele padrão de comportamento ou estilo de vida e terá potencializada a sua autenticidade em sua mais intima verdade. O espaço da clínica é o lugar da liberdade do ser, é o lugar da singularidade emergir.

Por Paula Prizo


 

terça-feira, 18 de janeiro de 2022


Viajante de mundos

O filósofo clínico em  formação tem a sua própria clínica, ele faz terapia com um colega filósofo. Nesse processo ele entende que a clínica se torna um espaço também de construção e desconstrução de conhecimentos. É o momento em que ele olha para si mesmo e para o seu mundo e revê a própria história a partir da Filosofia Clínica. Ele aprende, entende e sente que a cada vez que uma pessoa chega, ela vem trazendo um mundo, o mundo dela, conforme a representação dela. 
“O mundo é minha representação”
Schopenhauer

Na clínica, o partilhante percebe que ele pode se expor, que ali tem alguém que o escuta. Na Clínica Filosófica, aquele que chega, chega no seu espaço, onde ele pode dizer aquilo que ele quiser dizer. O filósofo clínico vai ao mundo do outro como um estrangeiro, ele observa o significado da linguagem do partilhante pelo partilhante. Ele não interpreta, ele entende com funciona aquela pessoa, como a sua estrutura de pensamento se organiza e como ela se movimenta mediante suas questões existenciais. O filósofo clínico é um viajante de mundos com um coração aprendiz. 

 Paula Prizo

sexta-feira, 14 de janeiro de 2022


     Um encontro existencial

Durante a primeira graduação em Teologia me interessei pelo pensamento grego. Então, fui cursar Filosofia. A cada aula, um espanto, hora saíamos em choque, hora maravilhados. Em uma de nossas conversas eu e os colegas falávamos como seria bom se a filosofia chegasse as ruas como nos tempos da Grécia Antiga. Foi então, que alguém mencionou a Filosofia Clínica. Naquele instante fui fisgada, iniciei a pós-graduação no Instituto Packter onde me tornei Especialista em Filosofia Clínica com habitação à pesquisa e dei segmento a minha formação para Habilita à Clínica no Recanto da Filosofia Clínica. Todo a formação somente me faz perceber que ainda há muito a saber e que o que hoje conheço é apenas uma gota no oceano.
Conhece-te a ti mesmo, torna-te consciente de tua ignorância e serás sábio.
Sócrates
A Filosofia Clínica me ensina a prática da alteridade, ir ao mundo do outro sem a bagagem, sem julgamento, sem afrontar a sua representação. Me ensina que a terapia é como uma dança que pode ser intensa ou suave, com muitos movimentos, muitos sons e ritmos diferentes. O terapeuta desenvolve a escuta, e é a escuta que o faz perceber todos os movimentos dessa dança. É um encontro e é nesse encontro ENTRE filósofo clínico e partilhante que a clínica acontece.
A Filosofia Clínica me ensina sobre o amor, não é possível ser filósofo clinico sem amar o próximo, sem amar aquele que vem compartilhar a sua existência, suas questões suas dores. Will Goya nos diz em seu livro A Escuta e o Silêncio "”amar o próximo como a si mesmo" não é amar apenas o semelhante, mas sobretudo o diferente, aquele com quem se aprende que o mundo é maior do que o próprio eu". É uma nova lição a cada clínica, a cada partilhante, a cada singularidade. Goya diz que “o importante é entender que o meu próximo é todo aquele de quem eu me aproximo, sem violentar sua autonomia ou seu jeito de ser". É na prática da escuta do amor ao próximo que a Filosofia Clínica acontece.

Paula Prizo

 

 



   


      Em Filosofia Clínica não há um modelo pronto, aquele que chega para  partilhar suas questões existenciais algumas vezes as nomeia como  depressão, ansiedade, etc. Contudo, o terapeuta nesse momento, não sabe sobre o que ela está falando. Somente com a atenta colheita da historicidade o filósofo clínico poderá saber o significado das palavras ditas pelo partilhante até aquele momento. A partir daí, o terapeuta já tem uma aproximação maior de como a pessoa age diante das questões dela.  Cada pessoa tem uma maneira de agir, de resolver, e de atuar, portanto, somente após identificar a constituição da estrutura de pensamento e dos seus modos o terapeuta poderá elaborar o planejamento clínico exclusivo e irreproduzível, porque para cada Ser singular, uma Clínica.

“[...]cada homem é singular, de sorte que, a cada nascimento, vem ao mundo algo singularmente novo”.

Hannah Arendt

 


    A Filosofia Clínica é uma terapia de alteridade, na qual o  filósofo clínico ajuda a pessoa a pensar por si mesma, organizando  pensamentos e questões existenciais nos seus próprios conceitos, nos seus próprios modos. É uma orientação existencial, é um resgate da singularidade que contribui para que a vida do partilhante seja por si mesmo, tornando a sua trajetória clara, livre e fluida.


Paula Prizo

Filósofa Clínica.

                                                                              




                Quando a pessoa chega à clínica eu peço que me deixe conhecer um pouco a sua história, a sua trajetória de vida. Algumas pessoas acham que a historicidade de vida é a própria vida delas. Então, quando há um acidente, um fracasso, uma grande decepção, muitas vezes a pessoa não entende que a trajetória é um navio que navega através do oceano e, ela pode achar que aquilo é ela mesma. Às vezes pode ser, outra vezes não, mas nós não sabemos. O filósofo clínico quer entender o que se passa, porque não há na Filosofia Clínica a verdade a priori, o que o partilhante está trazendo será trabalhado com a pessoa tanto quanto possível. Às vezes o que uma pessoa fala de si mesma, a historicidade nega, dizem que elas são pacatas, que são serenas, e na historicidade delas você não encontra isso. Outras vezes é a maneira como a pessoa edita a trajetória dela.  Só com o levantamento das Bases Categoriais será possível iniciar a aproximação clínica da Estrutura de Pensamento do partilhante.